27.11.06

A minha Gaveta é um Blog

Passar a escrito todos os escritos não fará de mim um escritor. Tenho uma gaveta atafulhada com muita coisa pouca e outra agora tenho por atafulhar. Ainda me lembro bem como era fácil preencher guardanapos no café. Não sentia então o branco em branco. Sentia o branco por preencher e preenchia com o tema do tempo que passa devagar. O tempo passa agora tão mais célere que o branco assusta, magoa e chateia. De qualquer forma este branco de écran sujo é bem mais fácil de apagar mas tão mais difícil de amarrotar. Qualquer coisa em mim grita para ser escrito mas não tenho por onde começar. Quisera eu ser um escritor mas tinha de acordar cedo de manhã e pegar ao serviço, com a caneta em riste e o papel a tomar-me conta da cabeça. Mas em vez disso, que chouriço, mandei CV´s e fui trabalhar, ganhar o meu. Agora confirmo que trabalhar dá cabo da alma. Quando dei por mim já não me lembrava do que era isto de escrever até atafulhar a gaveta, ficar satisfeito por despejar uma caneta. Agora só me resta começar de novo. As coisas antigas não me magoam. Das coisas antigas não me envergonho. Mas são coisas antigas e eu tão sem ritmo, tão sem saber como pegar de novo. Vai aos poucos e se soar a algo forçado é natural, é o meu fado.

Não sofro por falta de tema, sofro porque sofrer é o meu digno dilema.

Devagar se ia ao longe pensava a lesma mesmo antes de sofrer um ataque de pés a correr. Era alguém com pressa mas isso agora já não interessa. Eu gostava de ser mais surrealista mas não tenho jeito nenhum. A verdade é que o tempo passa e eu sem tema fico sem graça. Mas também não há pressa, mais tarde ou mais cedo alguma coisa há-de aparecer. Podia escrever sobre a flor é bela ou sobre os gatos que cheiram mal. Mas isso é assunto corrente e recorrente e assim nunca mais a gente vai para a frente. Se eu tivesse ao menos jeito para isto encontraria paleio por dá cá aquela palha. E faria das tripas coração até sair algo parecido com uma canção. De resto, a prosa sempre me saiu assim, a modos que a rimar. Quando se torce o pepino da poesia dificilmente se chega a escrever prosa como o Llosa.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim senhora, um poeta na familia... as tuas divagações filosóficas são ao dignas do Saramago ;)

Espero que não vás para alguma ilha espanhola, à espera de inspiração!!!! :)) quanto muito podes perder-te no Corte Inglès e desabafar sobre consumismo desenfredado e gostos mundanos ... :-)

Fico à espera do livro, e esse vou lê-lo todinho, porque do Saramago, fiquei na pág.8 ...

Mas, do teu livro (quando sair !!!!! :) vou ler TUDO!! Promessa.

beijokas aí em casa, Patrícia