15.3.08

Polvo Bandido

A batalha é suja e o inimigo é matreiro
Esconde-se qual cordeiro em cada esquina
Carburando sem parar o sorrateiro
Respira vapores de enxofre e parafina

O monstro verde aperta-nos a garganta
Embalado por oito bites de magia
O diabo esfrega os coutos de alegria
Conta as almas estripadas pela banca

Oleado com sangue de refinaria
Avança, pára e segue em frente
Afia as unhas untadas de ganância, o bandido
Chupa-nos o sangue e bebe-o ainda quente

Já nada nos fará escapar à sorte
Vergados do nascer até à morte
Aglutinados na quotidiana letargia
Submissos numa espécie de diz que é
Rastejamos e já não nos temos de pé
Embriagados por licores de anestesia

Não queres mas compras não precisas mas levas não gostas mas pagas não falas mas cagas não choras mas gritas não comes mas bebes não fodes mas bates não pensas mas fazes não lutas mas dormes não lutas mas dormes não lutas mas dormes não lutes, dorme

Miguel Nuno 08
in Debaixo do Bulcão 32
http://www.debaixodobulcao.blogspot.com/

8.2.08

Longe, mais longe

Longe, mais longe do que um horizonte de oceano, cresce uma força descendente que se acende como um risco luminoso e se apaga como uma memória mal pensada. Algo afasta o sentido da presença e empurra o corpo para um existir suspenso. O regresso é uma luz desfocada que embala a ânsia para o sucesso. A novidade enquadra-se perfeitamente num suspiro antigo, renovado uma e outra vez no olhar que seco contempla o céu. O frio afasta-se da pele continuando no entanto a roer por dentro, afirmando a sua necessidade profunda. A geografia impõe a sua arquitectura esmagando ao acaso a mente distraída. Dói ser longe e dói ouvir cantar. Uma lágrima doce vai acumulando o seu sofrer abrigada no olhar que não se comove. Endurece a geada, fica deserta a estrada e um grito cai ao chão. O luar, esse cresce para o vazio e volta a nascer.
Miguel Nuno 2000