25.4.07

"La bas, je ne sais oú"
(António José Coutinho)

Pós-moderna
Esta
Guerra infâme
Notícia d´outro
Pouco e demais
E aliás já
Nem me lembro.
Já sei.
O que não quero
isso faço...

Gabriel 98

6.4.07

Certeza

As horas de saudade e de martírio
Por tudo o que passou
E o tempo cristalizou
Passei-as

A certeza do fim veio tão cá dentro
Que às vezes inda o finado
Dentro do seu trono fechado
Revive

As raivas de ficar e não seguir
E não cumprir os planos
Que vêm de anos e anos
Esgotei-as

Mas o medo da hora derradeira
Feito de negações
Renúncias cruzes perdão
Não tive

Mário Dionísio, 1950

4.4.07

Dig Your Own Hole


Caminhar

Cada passo mais
É um passo em frente
É um passo que aproxima o momento
É um passo que atravessa o vento
Rumo a um final certo.
Cada passo mais
É um estar mais perto.
Cada passo é um risco,
Um traço,
Uma linha que se converte
Em caminho
E faz do destino
Uma presença ausente e
Sempre definitiva.
De cada passo se faz
O respirar da vida.

Miguel Nuno 2000

Rotundas

À porta de uma ausência que tarda
E perante notícias de um bom acordar,
Por entre os lençóis molhados do súor,
Renegarás a dura dor, despirás a farda,
Sabendo que está por chegar
A tinta brilhante que à luz empresta a cor.

Irás serpentear a rotunda
Esperando a resposta profunda
do regresso do Amor.

Jogando em tabuleiro redondo
Círculo perfeito, doce estrondo,
Entre o Sol e a dor.

Talvez na súbita sombra
Uma gota de gelo se cristalize
Ou o medo sobressaia.

Talvez encontres uma traição
No espelho das memórias
Ou na luta ou nas vitórias.

Por não conheceres a resposta
Da fatal questão, a verdade suprema,
continuas em rotunda, profunda
Hesitação do teu caminho.

Miguel Nuno 99
A torneira pinga,
Sangue de luz.
Uma arma carregada
Jaz no meu cérebro.
Uma caneta esporrando pus
escreve palavras de dor sentida
Secando rios no meu pensamento.

Miguel Nuno 88

Com Asas Parti

Ofereci-te uma rosa vermelha
E com asas aos ombros parti.
Não importa invocar os passos
Que perdi, os silêncios que percorri,
As memórias a que me entreguei...
Ofereci-te uma rosa e pus-me a voar.
Fiz-me aos céus e desapareci pelo ar.
Não interessa sublinhar os traços
Que cumpri, os horizontes que só eu
Vi, raízes que criei...
Ofereci-te uma rosa junto ao mar.
Com asas a crescer, a boca a secar.
Não é preciso recordar a dor que
Bebi, o tremor que senti, o grito
que não calei...
Ofereci-te uma rosa e segui.
Não para fugir mas para encontrar
Um jardim cheio de rosas por
Colher, que eu possa ao menos fotografar
Para mandar emoldurar e por fim te
Oferecer.
Ofereci-te uma rosa e com asas parti.
Atrás dos mundos que sonhei, dos sonhos que te prometi.

Miguel Nuno 99

3.4.07

Para Quê?

Tantos
Medos passam
Com o vazar
Das horas
Vagas. Tantas
Horas vagas
Por vazar e
Para quê estes
Medos tão vagos?

Miguel Nuno 98

Música de Orfeu


por Suzana Ramos

2.4.07

Não quero perder a
Mão esquerda, direita
E o Karma bom.

Taça D´outras Memórias

Memória quase colei.
Sonhos d´outrora
Por conquistar,
Meu castelo d´ar,
Meu vento que cobri
Calando a montanha porque
Sôfrego sonhei em vão!
Calando a canção,
Meu só eu que já vi.

Miguel Nuno 98

Perguntas

Depois de abandonado
O vento surgem carícias feitas
Das respostas que não dei.
Sem poder ser recuei.
Tu vais perguntando por aí...
Mas no assobiar do Sol e da
Chuva e dos pássaros surge
Retórica simples: esta humidade
Não será feita simplesmente
de ti?

Miguel Nuno 98

Às Tantas Até Tento

Reconhecendo as pégadas
Duma cara
Conhecida nas rotundas do ar,
Vou escrevendo em
Papel que
Deixo azul ao passares,
Caneta que amo
por palavras que não sei dizer.
Às tantas até tento
Calar, só ver...
Mas são momentos em que, de
tão pouco cantar, rebento.

Miguel Nuno 98

Tudo o Que Oiço

Tudo o que oiço
Tudo o que foco
Tudo o que faço
Me aleija em ruído e passo.
Tudo o que dou
Tudo o que olho
Tudo o que escolho
Me fulmina em solidão e vou.
Coração, furacão abandonado,
Traz-me de volta meu
carinho e bom fado.

Miguel Nuno 98

Um homem encosta o céu à vida





por Suzana Ramos