27.5.07

Apreender

I
Passo a minha mão pela tua cabeça
Recurvamente, atentamente, e só com dedos brandos,
Olhando-a como passa e vendo como passou.
Quero tanto saber o tu pensas.

II
O que tu pensas, mas apenas como,
E quando e o porquê, e não
Que estejas pensando ou não que a minha mão,
Atenta e recurvada, passa brandamente.
Quero saber aquilo que nem sabes.

III
Aquilo que nem sabes - como saberias
O que o pensar é antes de pensar-se?

A mão que pousa e vai passar atenta.
O olhar que espera ver passar o gesto.
A tácita lembrança de volver os olhos.
A brisa que sabemos vai soprar tão mansa,
Ainda antes, no fremir de pétalas ou folhas,
Mas não na expectativa do arrepio prévio.

IV
Porque esperaste, cienta, a pele da minha mão.

Jorge de Sena, in "Poemas Escolhidos".

2 comentários:

Debaixo do Bulcão disse...

"Aprender, aprender, aprender sempre!"

Ah, a propósito: cool blog que tu tens aqui, ó Miguel!

;-)

Vitorino

linfoma_a-escrota disse...

LEITINHO PARA O MENINO

Os bébés pedem autorização e
Beijam-se na face,
São irmãos
Coniventes ou inimigos até ao fim.
Os fósseis sorriem e pouco mais,
Dissidentes contaminados
Pelos glaciares do tempo
Dos quais foram expropriados.
A esperança está nos proles
Um ideal, uma promessa sem época e
Supostamente educada para servir o habitat.

Os fedelhos estão a olhar-me fixamente
Num ultimato de suspeita atípica,
Denunciam,
Através da mama eriçada
Riem-se do meu desespero
Com o leite a escorrer-lhes pelos beiços
Nojentos,
Sabem-no muito bem, como aproveitar
Para provocar controvérsia.

Gozam com o que povoa
Esta infância desperdiçada,
Ridicularizam a vida adulta e sóbria
Naqueles olhos fixos de questões,
Enquanto são reis e
Deuses de inocência diplomática,
Sentem a Natureza
Como parte fundamental dum motim,
A ganância
Os joguinhos da apanhada sexual
O cimento citadino que controlam e destroem
Por instinto e prazer.

2003



in S&M (sem-nome e mal-dito)


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