8.2.08

Longe, mais longe

Longe, mais longe do que um horizonte de oceano, cresce uma força descendente que se acende como um risco luminoso e se apaga como uma memória mal pensada. Algo afasta o sentido da presença e empurra o corpo para um existir suspenso. O regresso é uma luz desfocada que embala a ânsia para o sucesso. A novidade enquadra-se perfeitamente num suspiro antigo, renovado uma e outra vez no olhar que seco contempla o céu. O frio afasta-se da pele continuando no entanto a roer por dentro, afirmando a sua necessidade profunda. A geografia impõe a sua arquitectura esmagando ao acaso a mente distraída. Dói ser longe e dói ouvir cantar. Uma lágrima doce vai acumulando o seu sofrer abrigada no olhar que não se comove. Endurece a geada, fica deserta a estrada e um grito cai ao chão. O luar, esse cresce para o vazio e volta a nascer.
Miguel Nuno 2000